sexta-feira, 10 de julho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
PRISIONEIRO
Eu queria poder falar como o povo fala.Poder dizer o que
quero sem me preocupar com a norma culta. Ignorar Domingos
Pascoal Cegalla, Celso Cunha, Luiz Antônio Sacconi, Manoel Pinto
Ribeiro, e outros mais.Poder colocar o pronome oblíquo no início
da frase, sem me preocupar com a censura. Conjugar o verbo
namorar como se fosse transitivo indireto. Falar o português
gostoso que o povo fala... Mas esses homens engravatados,
barbeados, com cartões de crédito e chaves de carro nos bolsos,
que estão diante de mim, impedem-me de fazê-lo.
Eu queria poder dormir em uma casa de pau a pique e com
assoalho de terra batida, em cima de uma esteira de junco, e
acordar com o canto do galo... E ter como desjejum leite recém-
tirado da Mimosa. E aipim e inhame cozidos; queijo e pão caseiros.
Eu queria contar estrelas, sentir o perfume das flores, sentar
de cócoras diante de uma fogueira, comendo milho assado, e ouvir
os causos contados pelos homens simples da roça, mas cheios de
sabedoria.
Às vezes, vou a uma cidade do interior, misturo-me ao povo.
Misturar é palavra errada, sou igual todo mundo: junto me ao povo,
aos homens comuns. Converso com eles. Sento-me à mesa com
essa gente humilde e almoçamos. Pronto: adquiro a consciência de
que sou livre. Livre de Domingos Paschoal Cegalla, Sérgio
Nogueira e outros. Ouço frases lindas e cheias de poesia e calor:
“Benzinha, vamos comer um sanduíche de mortandela?! Fiz com
todo carinho pra ocê.”, “Me dá um refrigerante.”, “Comprei ela lá em
Madureira.”.
Começo a viver emoções e alegrias... De repente, os
compromissos me chamam. Acaba a boa vida. Lá estou eu diante
de homens e mulheres soberbos. Sinto-me como se estivesse
diante do Professor Evanildo Bechara, dedo em riste no meu nariz:
– Olha a gramática normativa, menino!
Eu queria ser livre.
quero sem me preocupar com a norma culta. Ignorar Domingos
Pascoal Cegalla, Celso Cunha, Luiz Antônio Sacconi, Manoel Pinto
Ribeiro, e outros mais.Poder colocar o pronome oblíquo no início
da frase, sem me preocupar com a censura. Conjugar o verbo
namorar como se fosse transitivo indireto. Falar o português
gostoso que o povo fala... Mas esses homens engravatados,
barbeados, com cartões de crédito e chaves de carro nos bolsos,
que estão diante de mim, impedem-me de fazê-lo.
Eu queria poder dormir em uma casa de pau a pique e com
assoalho de terra batida, em cima de uma esteira de junco, e
acordar com o canto do galo... E ter como desjejum leite recém-
tirado da Mimosa. E aipim e inhame cozidos; queijo e pão caseiros.
Eu queria contar estrelas, sentir o perfume das flores, sentar
de cócoras diante de uma fogueira, comendo milho assado, e ouvir
os causos contados pelos homens simples da roça, mas cheios de
sabedoria.
Às vezes, vou a uma cidade do interior, misturo-me ao povo.
Misturar é palavra errada, sou igual todo mundo: junto me ao povo,
aos homens comuns. Converso com eles. Sento-me à mesa com
essa gente humilde e almoçamos. Pronto: adquiro a consciência de
que sou livre. Livre de Domingos Paschoal Cegalla, Sérgio
Nogueira e outros. Ouço frases lindas e cheias de poesia e calor:
“Benzinha, vamos comer um sanduíche de mortandela?! Fiz com
todo carinho pra ocê.”, “Me dá um refrigerante.”, “Comprei ela lá em
Madureira.”.
Começo a viver emoções e alegrias... De repente, os
compromissos me chamam. Acaba a boa vida. Lá estou eu diante
de homens e mulheres soberbos. Sinto-me como se estivesse
diante do Professor Evanildo Bechara, dedo em riste no meu nariz:
– Olha a gramática normativa, menino!
Eu queria ser livre.
O JARDIM DA MINHA CASA
Que beleza é o meu jardim!
Pela manhã, abro a janela do meu quarto, respiro o ar fresco da manhã,
olho o céu azul, vejo o Sol, essa esfera de gases incandescentes; esse astro
que aquece e ilumina a Terra, e que foi venerado por muitas civilizações.
Olho as flores do jardim, como que a sorrirem: dálias, crisântemos,
copos-de-leite, margaridas, rosas...
Uma brisa suave traz o perfume das flores até as minhas narinas.
Contemplo as sementes que estão germinando. Vão surgir novas
plantas no jardim.
Observo também pássaros voando aqui e acolá, abelhas sugando o
néctar das flores e fazendo a polinização. Teremos frutos em breve.
Beija-flores aproveitam os descuidos das abelhas para sugar o néctar
das flores. Borboletas se esvoaçam dando um colorido bonito ao jardim. Suas
cores amarelas causam um lindo contraste com o céu azul.
Um sol radiante bate nas folhas das plantas e elas fazem a fotossíntese.
Vem mais oxigênio. Girassóis fazem o heliotropismo. Libélulas realizam voos
rasantes, ou ficam volitando. Lagartas corroem as folhas para se alimentar.
Folhas que caem são catadas avidamente pelas formigas. È a natureza
em festa.
Borboletas, flores de diversas cores, abelhas, pássaros voando e plantas
verdejantes formam um cenário belíssimo.
Fico feliz em contemplar toda essa beleza, que não está em outro
mundo, em outro país ou em outra dimensão, mas no jardim da minha casa.
Pela manhã, abro a janela do meu quarto, respiro o ar fresco da manhã,
olho o céu azul, vejo o Sol, essa esfera de gases incandescentes; esse astro
que aquece e ilumina a Terra, e que foi venerado por muitas civilizações.
Olho as flores do jardim, como que a sorrirem: dálias, crisântemos,
copos-de-leite, margaridas, rosas...
Uma brisa suave traz o perfume das flores até as minhas narinas.
Contemplo as sementes que estão germinando. Vão surgir novas
plantas no jardim.
Observo também pássaros voando aqui e acolá, abelhas sugando o
néctar das flores e fazendo a polinização. Teremos frutos em breve.
Beija-flores aproveitam os descuidos das abelhas para sugar o néctar
das flores. Borboletas se esvoaçam dando um colorido bonito ao jardim. Suas
cores amarelas causam um lindo contraste com o céu azul.
Um sol radiante bate nas folhas das plantas e elas fazem a fotossíntese.
Vem mais oxigênio. Girassóis fazem o heliotropismo. Libélulas realizam voos
rasantes, ou ficam volitando. Lagartas corroem as folhas para se alimentar.
Folhas que caem são catadas avidamente pelas formigas. È a natureza
em festa.
Borboletas, flores de diversas cores, abelhas, pássaros voando e plantas
verdejantes formam um cenário belíssimo.
Fico feliz em contemplar toda essa beleza, que não está em outro
mundo, em outro país ou em outra dimensão, mas no jardim da minha casa.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
EU SOZINHO
É domingo... Eu vagando perlas ruas... Quantos ficam também perambulando pelas ruas no domingo. Não sou diferente de ninguém.
Mas... e a solidão. A solidão ataca os que estão sós. Eu estou só... E solidão presente... É estando só que o ser humano se conscientiza do que ele realmente é.
Olho nos espelhos dos bares e uma voz forte e surda me diz: você é isto. Não fuja.
Nas ruas passam pessoas em busca de seus destinos. Quem sabe ao encontro da amada?! Mas eu estou só.
Ando e não saio do mesmo lugar. As pessoas estão indiferentes à minha solidão. Não notam a minha presença. Sou mais um a caminhar pelas ruas, sou mais um a preencher os vazios nas calçadas, sou mais um a atravessar nos sinais, sou mais um para parar em um bar, comer e beber alguma coisa, e jogar o resto fora.
Retorno à minha morada. A solidão vem atrás de mim. Entra correndo e vai para o meu quarto.
Não há como expulsá-la. Ela entra nas gavetas, embaixo da cama, em cima dos móveis.
Quer vir para a minha cama e deitar-se comigo. Não consigo expulsá-la e, em vão, tento fazê-lo...
Acabamos dormindo juntos.
Mas... e a solidão. A solidão ataca os que estão sós. Eu estou só... E solidão presente... É estando só que o ser humano se conscientiza do que ele realmente é.
Olho nos espelhos dos bares e uma voz forte e surda me diz: você é isto. Não fuja.
Nas ruas passam pessoas em busca de seus destinos. Quem sabe ao encontro da amada?! Mas eu estou só.
Ando e não saio do mesmo lugar. As pessoas estão indiferentes à minha solidão. Não notam a minha presença. Sou mais um a caminhar pelas ruas, sou mais um a preencher os vazios nas calçadas, sou mais um a atravessar nos sinais, sou mais um para parar em um bar, comer e beber alguma coisa, e jogar o resto fora.
Retorno à minha morada. A solidão vem atrás de mim. Entra correndo e vai para o meu quarto.
Não há como expulsá-la. Ela entra nas gavetas, embaixo da cama, em cima dos móveis.
Quer vir para a minha cama e deitar-se comigo. Não consigo expulsá-la e, em vão, tento fazê-lo...
Acabamos dormindo juntos.
sábado, 6 de junho de 2015
RONALDO
A tarde já estava findando quando entrei em um sebo no Centro da Cidade do Rio de Janeiro.
Fiquei distraído olhando as obras, quando dei por mim, estava na hora das lojas cerrarem suas portas.
Saí à rua abraçado aos livros envelhecidos e empoeirados que comprei.
A noite estava fria.
Senti vontade de andar um pouco. Comecei a caminhar distraidamente. De repente, recostado a coluna de um prédio, encontrei Ronaldo. O mesmo Ronaldo que conheci há vinte anos: calmo, sereno, voz meiga e suave.
Nos cumprimentamos, falamos de coisas do passado. Rimos,brincamos.
Perguntei-lhe o que estava fazendo ali naquela rua... Aí,
com a mesma calma e serenidade que sempre o caracterizou, ele
me respondeu que estava esperando a namorada.
Fiquei surpreso e falei-lhe:
– Você marcou encontro nesta rua; em frente a uma casa
onde há mulheres que fazem de strip-tease!
– Minha noiva é stripper nesta casa – disse com voz mansa e
suave.
– Stripper! – repeti assustado.
– Já está quase na hora de ela chegar – novamente falou com
suavidade e doçura.
Dito isto, pouco depois, uma morena com roupas sumárias e
provocantes, acompanhada de outras meninas também vestidas da
mesma maneira surgiram diante de nós.
Usavam calças muito justas, que não tinham mais como descer a cintura, e miniblusas
que não tinham mais como serem menores, deixando o abdômen e parte do tórax das meninas à mostra.
Apresentou-me as moças.
Conversamos.
Elas falaram sobre seus shows, contaram assuntos particulares, rimos brincamos.
Despedimos-nos com cordialidade.
Ronaldo delicadamente pegou a mão da namorada e caminharam com passos vagarosos e suaves.
Fiquei algum tempo parado e vendo Ronaldo, de mãos dadas com a morena, trocarem beijos e desaparecerem, lentamente, na multidão.
Fiquei distraído olhando as obras, quando dei por mim, estava na hora das lojas cerrarem suas portas.
Saí à rua abraçado aos livros envelhecidos e empoeirados que comprei.
A noite estava fria.
Senti vontade de andar um pouco. Comecei a caminhar distraidamente. De repente, recostado a coluna de um prédio, encontrei Ronaldo. O mesmo Ronaldo que conheci há vinte anos: calmo, sereno, voz meiga e suave.
Nos cumprimentamos, falamos de coisas do passado. Rimos,brincamos.
Perguntei-lhe o que estava fazendo ali naquela rua... Aí,
com a mesma calma e serenidade que sempre o caracterizou, ele
me respondeu que estava esperando a namorada.
Fiquei surpreso e falei-lhe:
– Você marcou encontro nesta rua; em frente a uma casa
onde há mulheres que fazem de strip-tease!
– Minha noiva é stripper nesta casa – disse com voz mansa e
suave.
– Stripper! – repeti assustado.
– Já está quase na hora de ela chegar – novamente falou com
suavidade e doçura.
Dito isto, pouco depois, uma morena com roupas sumárias e
provocantes, acompanhada de outras meninas também vestidas da
mesma maneira surgiram diante de nós.
Usavam calças muito justas, que não tinham mais como descer a cintura, e miniblusas
que não tinham mais como serem menores, deixando o abdômen e parte do tórax das meninas à mostra.
Apresentou-me as moças.
Conversamos.
Elas falaram sobre seus shows, contaram assuntos particulares, rimos brincamos.
Despedimos-nos com cordialidade.
Ronaldo delicadamente pegou a mão da namorada e caminharam com passos vagarosos e suaves.
Fiquei algum tempo parado e vendo Ronaldo, de mãos dadas com a morena, trocarem beijos e desaparecerem, lentamente, na multidão.
terça-feira, 26 de maio de 2015
FAXINEIRA E MORANDO NA PERIFERIA DA CIDADE
O nome dela é Marta, 29 anos, separada, instrução até a 8ª série do ensino fundamental.
Ela sai de casa às 6h da manhã e trabalha como faxineira em uma concessionária.
Recebe no final do mês um salário mínimo; mora na periferia da cidade em uma casa de posse, que tem quarto, sala, cozinha e banheiro.
O pai das crianças não pode ajudar. Tem outra família e está desempregado.
Marta tem dois filhos: um de quatro anos e outro de 5 anos, que ficam com a avó materna, quando a faxineira vai trabalhar na concessionária.
À noite, a faxineira chega a casa e prepara o jantar. Quando não têm carne, comem ovos estrelados. Às vezes, um ovo frito é cortado ao meio. Metade para cada filho.
Seu sonho é ter uma máquina de lavar roupas. Mas ainda não chegou o momento. Pretende juntar dinheiro para adquiri-la.
Ela luta sem reclamar.
Ela sobrevive a todas as dificuldades.
Dá uma demonstração de poder diante dos problemas que podem surgir no dia a dia.
Seus filhos não passam fome. Quando diminui a comida ela faz serão ou faz limpeza na casa de uma senhora. Entra algum dinheirinho, que sempre auxilia.
Sua mãe ajuda no que for possível... Outro dia comprou um frango que estava em promoção. Foi uma festa: comeram com coca-cola.
Hoje é sábado. Marta entrou no mercado e comprou um litro de leite, um quilo de carne de segunda, um quilo de arroz, um quilo de feijão e um tablete de margarina.
Sobrou alguns trocados e ela adquiriu um xampu. Ficou muito contente. Isto é luxo para quem ganha salário mínimo.
Mais um dia de vitória.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
MULTIDÃO NAS RUAS
Saio de casa e vou à rua.
Olho para os lados e observo o agito da multidão.
Menores de cinco, seis, sete, oito anos vagam pelas ruas sem os responsáveis.
Mendigos pedem esmolas.
Crianças uniformizadas caminham apressadamente para chegarem aos colégios.
Os bares estão cheios.
Pessoas açodadamente pedem salgadinhos, sucos refrigerantes, refrescos...
Adolescentes distribuem fôlderes quase que obrigando as pessoas a aceitá-los.
Outros adolescentes, esquálidos, e balbuciando frases ininteligíveis vagam pelas ruas.
É o poder das drogas sobre eles.
Observo lojas de roupa, bares, lanchonetes, padarias, quartéis, museus, estúdios fotográficos, correios, colégios...
Tudo nos seus devidos lugares.
Sem muito esforço, percebo os contrastes sociais: pessoas paupérrimas ao lado de um BMW, e famintos passando nas calçadas de restaurantes de luxo.
Tudo nos seus devidos lugares.
Um rapaz vende batatas fritas.
A multidão faz fila, na ânsia de degustar a deliciosa iguaria.
Mendigos espreitam os bares e fustigam os fregueses, na esperança de lhes pagarem um alimento qualquer.
Pessoas entram nas lojas e fazem suas compras sob o olhar perspicaz dos seguranças.
Olho para mim mesmo e noto que sou também mais uma peça nesse imenso complexo.
Prossigo o meu caminho...
sexta-feira, 1 de maio de 2015
VULTOS
Madrugada. Baixo Méier. Abro a janela e vejo vultos que perambulam pelas ruas.
Maltrapilhos, sujos, imundos, e muitos exalando um bodum que fica zunindo no ar, eles caminham açodadamente em busca de lixos de restaurante.
Disputam, junto com os pombos, os restos de comida que encontram. Bebem o pouco do refrigerante que restou nas latinhas.
Caminham para o nada. Alguns dão sinais de alucinação: murmuram palavras ao vento, ou dizem frases ininteligíveis.
Vagam sem se incomodarem com o fartum que exala de seus corpos, com aspecto de miséria e pobreza que apresentam e com o constrangimento que causam àqueles que os veem.
Arrastam seus trapos velhos. Catam pontas de cigarro. Fumam.
Pedem açodadamente dinheiro, alegando que é para saciar a fome. Fome não de comida, mas de crack, a droga da morte... E, assim, eles ficam o dia inteiro...
Sem amparo, sem orientação e sem tratamento eles perambulam. O pensamento está na droga – o crack.
Na hora de dormir, procuram papelões para improvisar suas camas.
O que nem sempre conseguem, pois há aqueles que dormem com o corpo em contato com as calçadas frias e sujas, por falta de uma folha de jornal para servir de colchão.
terça-feira, 21 de abril de 2015
DA PAZ À GUERRA
Elmo Costa Cezar
Reina intensa paz e harmonia
na casa de Débora e Rafael. Um silêncio profundo embala a paz do
casal. Acabam de chegar de viagem. Foram passear. Estão tão
felizes.
Trocam beijos. Conversam sobre
o passeio. Veem filmes. Rafael afaga os cabelos de Débora e diz que
a ama. Ela retribui acariciando os cabelos do amado. Mais beijos...
Muito mais beijos... Mais afagos...
Débora olha para uma garrafa
de vinho que está em uma prateleira e diz para o marido:
Esse vinho está esquecido há
muitos anos. Vamos tomá-lo quando completarmos cinco anos de casados
no mês que vem.
Rafael:
É
vinho seco... Seu pai gostava muito.
A mulher fica um pouco séria
e fala:
– Papai bebia vinho como qualquer pessoa. Um cálice às
refeições.
Rafael dá um sorriso:
– Um cálice gigante. Ele gostava muito de uma birita.
A
esposa fica irada:
– Espera lá, meu filho, você nunca perde uma oportunidade de
falar do meu pai. Respeite a memória dele. Fique sabendo que ele era
um homem muito bom.
Rafael:
– Certa feita ele me negou
um empréstimo. Velho pão-duro.
Débora esbraveja:
Ele
tinha razão: você foi sempre um joão-ninguém, como iria pagar? E
mais: pão-duro coisa alguma. Esta casa que você mora foi ele que me
deu. Você já se esqueceu disso?
O
marido:
–
Sim, mas comprou com dinheiro
que ganhou explorando as pessoas. Era agiota.
Débora olha séria para ele:
–Olha, cara, você tem
inveja dele. Você nunca teve capacidade nem para comprar um quarto
na favela. Você é um incompetente. Não venha falar do meu pai. Vá
falar da sua mãe que se casou duas vezes, depois que ficou viúva.
A velha tem um fogo!...
Rafael levanta-se da poltrona:
– Seu
pai era cachaceiro, sim! Enchia a cara todos os dias, ouviu? Venceu
na vida dando golpes. Enganou as pessoas. E muito.
A esposa retrucou:
– Não sei onde estava com a cabeça quando me casei com esse
estrupício. Você nunca teve capacidade para passar em um concurso,
criatura fracassada na vida. Quem paga o colégio dos nossos filhos
sou eu. Dependesse da miséria que você ganha, nossos filhos
estariam estudando em colégio público.
O marido dá o troco:
–
Você tem celulite. Tem até
vergonha de ir à praia. Tem queixo proeminente. Até varizes você
tem.
Débora retruca:
O seu chulé, homem fracassado
na vida, mulher nenhuma atura. Você é porco.
Débora toma um copo de água
e diz:
– Vou pedir a minha prima, que é advogada, para fazer o nosso
divórcio. Não aguento mais. Vou dormir no quarto das crianças.
Comentários:
A palavra má é uma fonte
geradora de tragédias. Por que agrediu a esposa? Pense bem antes de
usar a palavra má. Proteja o seu relacionamento.
Eles estão separados há dois
anos.
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