Elmo Costa Cezar
Reina intensa paz e harmonia
na casa de Débora e Rafael. Um silêncio profundo embala a paz do
casal. Acabam de chegar de viagem. Foram passear. Estão tão
felizes.
Trocam beijos. Conversam sobre
o passeio. Veem filmes. Rafael afaga os cabelos de Débora e diz que
a ama. Ela retribui acariciando os cabelos do amado. Mais beijos...
Muito mais beijos... Mais afagos...
Débora olha para uma garrafa
de vinho que está em uma prateleira e diz para o marido:
Esse vinho está esquecido há
muitos anos. Vamos tomá-lo quando completarmos cinco anos de casados
no mês que vem.
Rafael:
É
vinho seco... Seu pai gostava muito.
A mulher fica um pouco séria
e fala:
– Papai bebia vinho como qualquer pessoa. Um cálice às
refeições.
Rafael dá um sorriso:
– Um cálice gigante. Ele gostava muito de uma birita.
A
esposa fica irada:
– Espera lá, meu filho, você nunca perde uma oportunidade de
falar do meu pai. Respeite a memória dele. Fique sabendo que ele era
um homem muito bom.
Rafael:
– Certa feita ele me negou
um empréstimo. Velho pão-duro.
Débora esbraveja:
Ele
tinha razão: você foi sempre um joão-ninguém, como iria pagar? E
mais: pão-duro coisa alguma. Esta casa que você mora foi ele que me
deu. Você já se esqueceu disso?
O
marido:
–
Sim, mas comprou com dinheiro
que ganhou explorando as pessoas. Era agiota.
Débora olha séria para ele:
–Olha, cara, você tem
inveja dele. Você nunca teve capacidade nem para comprar um quarto
na favela. Você é um incompetente. Não venha falar do meu pai. Vá
falar da sua mãe que se casou duas vezes, depois que ficou viúva.
A velha tem um fogo!...
Rafael levanta-se da poltrona:
– Seu
pai era cachaceiro, sim! Enchia a cara todos os dias, ouviu? Venceu
na vida dando golpes. Enganou as pessoas. E muito.
A esposa retrucou:
– Não sei onde estava com a cabeça quando me casei com esse
estrupício. Você nunca teve capacidade para passar em um concurso,
criatura fracassada na vida. Quem paga o colégio dos nossos filhos
sou eu. Dependesse da miséria que você ganha, nossos filhos
estariam estudando em colégio público.
O marido dá o troco:
–
Você tem celulite. Tem até
vergonha de ir à praia. Tem queixo proeminente. Até varizes você
tem.
Débora retruca:
O seu chulé, homem fracassado
na vida, mulher nenhuma atura. Você é porco.
Débora toma um copo de água
e diz:
– Vou pedir a minha prima, que é advogada, para fazer o nosso
divórcio. Não aguento mais. Vou dormir no quarto das crianças.
Comentários:
A palavra má é uma fonte
geradora de tragédias. Por que agrediu a esposa? Pense bem antes de
usar a palavra má. Proteja o seu relacionamento.
Eles estão separados há dois
anos.