sábado, 6 de junho de 2015

RONALDO

A tarde já estava findando quando entrei em um sebo no Centro da Cidade do Rio de Janeiro.
   Fiquei distraído olhando as obras, quando dei por mim, estava na hora das lojas cerrarem suas portas.
    Saí à rua abraçado aos livros envelhecidos e empoeirados que comprei.  
A noite estava fria.
  Senti vontade de andar um pouco. Comecei a caminhar distraidamente. De repente, recostado a coluna de um prédio, encontrei Ronaldo. O mesmo Ronaldo que conheci há vinte anos: calmo, sereno, voz meiga e suave.
 Nos cumprimentamos, falamos de coisas do passado. Rimos,brincamos.

  Perguntei-lhe o que estava fazendo ali naquela rua... Aí,
 com a mesma calma e serenidade que sempre o caracterizou, ele
   me respondeu que estava esperando a namorada.
 
   Fiquei surpreso e falei-lhe:
     – Você marcou encontro nesta rua; em frente a uma casa
      onde há mulheres que fazem de strip-tease!

     –  Minha noiva é stripper nesta casa – disse com voz mansa e
          suave.

     – Stripper! – repeti assustado.
     – Já está quase na hora de ela chegar – novamente falou com
         suavidade e doçura.

     Dito isto, pouco depois, uma morena com roupas sumárias e
 provocantes, acompanhada de outras meninas também vestidas da
 mesma maneira surgiram diante de nós.

   Usavam calças muito justas, que não tinham mais como descer a cintura, e miniblusas
que não tinham mais como serem menores, deixando o abdômen e parte do tórax das meninas à mostra.
Apresentou-me as moças.
 Conversamos.

  Elas falaram sobre seus  shows, contaram assuntos particulares, rimos brincamos.
    Despedimos-nos com cordialidade.

   Ronaldo delicadamente pegou a mão da namorada e caminharam com passos vagarosos e suaves.
Fiquei algum tempo parado e vendo Ronaldo, de mãos dadas com a morena, trocarem beijos e    desaparecerem,  lentamente, na multidão.

   
   

terça-feira, 26 de maio de 2015

FAXINEIRA E MORANDO NA PERIFERIA DA CIDADE

                 
 O nome dela é Marta, 29 anos, separada, instrução até a 8ª série do ensino fundamental.

     Ela sai de casa às 6h da manhã e trabalha como faxineira em uma concessionária.

 Recebe no final do mês um salário mínimo; mora na periferia da cidade em uma casa de posse, que tem quarto, sala, cozinha e banheiro.

        O pai das crianças não pode ajudar. Tem outra família e está desempregado.

 Marta tem dois filhos: um de quatro anos e outro de 5 anos, que ficam com a avó materna, quando a faxineira  vai trabalhar na concessionária.

À noite, a faxineira chega a casa e prepara o jantar. Quando não têm carne, comem ovos estrelados. Às vezes, um ovo frito é cortado ao meio. Metade para cada filho.  

 Seu sonho é ter uma máquina de lavar roupas. Mas ainda não chegou o momento. Pretende juntar dinheiro para adquiri-la.

Ela luta sem reclamar.
Ela sobrevive a todas as dificuldades.
Dá uma demonstração de poder diante dos  problemas que podem surgir no dia a dia.

 Seus filhos não passam fome. Quando diminui a comida ela faz serão ou faz limpeza na casa de uma senhora. Entra algum dinheirinho, que sempre auxilia.

Sua mãe ajuda no que for possível... Outro dia comprou um frango que estava em promoção. Foi uma festa: comeram com coca-cola.

Hoje é sábado. Marta entrou no mercado e comprou um litro de leite, um quilo de carne de segunda, um quilo de arroz, um quilo de feijão e um tablete de  margarina.
 Sobrou alguns  trocados e ela adquiriu um xampu. Ficou muito contente. Isto é luxo para quem ganha salário mínimo.

 Mais um dia de vitória.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

MULTIDÃO NAS RUAS



Saio de casa e vou  à rua.
Olho para os lados e observo o agito da multidão.
Menores de cinco, seis, sete, oito anos vagam pelas ruas sem os responsáveis.

Mendigos pedem esmolas.
Crianças uniformizadas caminham apressadamente para chegarem aos colégios.

Os bares estão cheios.
Pessoas açodadamente pedem salgadinhos, sucos refrigerantes, refrescos...

Adolescentes distribuem fôlderes quase que obrigando as pessoas a aceitá-los.
Outros adolescentes, esquálidos, e balbuciando frases ininteligíveis vagam pelas ruas.
É o poder das drogas sobre eles.

Observo lojas de roupa, bares, lanchonetes, padarias, quartéis, museus, estúdios fotográficos, correios, colégios...

Tudo nos seus devidos lugares.

Sem muito esforço, percebo os contrastes sociais: pessoas paupérrimas ao lado de um BMW, e famintos passando nas calçadas de restaurantes de luxo.

Tudo nos seus devidos lugares.

Um rapaz vende batatas fritas.
A multidão faz fila, na ânsia de degustar a deliciosa iguaria.

Mendigos espreitam os bares e fustigam os fregueses, na esperança de lhes pagarem um alimento qualquer.

Pessoas entram nas lojas e fazem suas compras sob o olhar perspicaz dos seguranças.
Olho para mim mesmo e noto que sou também mais uma peça nesse imenso complexo.
Prossigo o meu caminho...
     

sexta-feira, 1 de maio de 2015

VULTOS

 

Madrugada. Baixo Méier. Abro a janela e vejo vultos que perambulam pelas ruas.

Maltrapilhos, sujos, imundos, e muitos exalando um bodum que fica zunindo no ar, eles caminham açodadamente em busca de lixos de restaurante.

Disputam, junto com os pombos, os restos de comida que encontram. Bebem o pouco do refrigerante que restou nas latinhas.

Caminham para o nada. Alguns dão sinais de alucinação: murmuram palavras ao vento, ou dizem frases ininteligíveis.

Vagam sem se incomodarem com o fartum que exala de seus corpos, com aspecto de miséria e pobreza que apresentam e com o constrangimento que causam àqueles que os veem.

Arrastam seus trapos velhos. Catam pontas de cigarro. Fumam.

Pedem açodadamente dinheiro, alegando que é para saciar a fome. Fome não de comida, mas de crack, a droga da morte... E, assim, eles ficam o dia inteiro...

Sem amparo, sem orientação e sem tratamento eles perambulam. O pensamento está na droga – o crack.

Na hora de dormir, procuram papelões para improvisar suas camas.
O que nem sempre conseguem, pois há aqueles que dormem com o corpo em contato com as calçadas frias e sujas, por falta de uma folha de jornal para servir de colchão.

terça-feira, 21 de abril de 2015

DA PAZ À GUERRA

Elmo Costa Cezar

Reina intensa paz e harmonia na casa de Débora e Rafael. Um silêncio profundo embala a paz do casal. Acabam de chegar de viagem. Foram passear. Estão tão felizes.
Trocam beijos. Conversam sobre o passeio. Veem filmes. Rafael afaga os cabelos de Débora e diz que a ama. Ela retribui acariciando os cabelos do amado. Mais beijos... Muito mais beijos... Mais afagos...

Débora olha para uma garrafa de vinho que está em uma prateleira e diz para o marido:
Esse vinho está esquecido há muitos anos. Vamos tomá-lo quando completarmos cinco anos de casados no mês que vem.
Rafael:
É vinho seco... Seu pai gostava muito.
A mulher fica um pouco séria e fala:
          – Papai bebia vinho como qualquer pessoa. Um cálice às refeições.
Rafael dá um sorriso:
            – Um cálice gigante. Ele gostava muito de uma birita.
            A esposa fica irada:
– Espera lá, meu filho, você nunca perde uma oportunidade de falar do meu pai. Respeite a memória dele. Fique sabendo que ele era um homem muito bom.

         Rafael:
Certa feita ele me negou um empréstimo. Velho pão-duro.
Débora esbraveja:
Ele tinha razão: você foi sempre um joão-ninguém, como iria pagar? E mais: pão-duro coisa alguma. Esta casa que você mora foi ele que me deu. Você já se esqueceu disso?
O marido:
Sim, mas comprou com dinheiro que ganhou explorando as pessoas. Era agiota.
Débora olha séria para ele:
Olha, cara, você tem inveja dele. Você nunca teve capacidade nem para comprar um quarto na favela. Você é um incompetente. Não venha falar do meu pai. Vá falar da sua mãe que se casou duas vezes, depois que ficou viúva. A velha tem um fogo!...
Rafael levanta-se da poltrona:
Seu pai era cachaceiro, sim! Enchia a cara todos os dias, ouviu? Venceu na vida dando golpes. Enganou as pessoas. E muito.
            A esposa retrucou:
       – Não sei onde estava com a cabeça quando me casei com esse estrupício. Você nunca teve capacidade para passar em um concurso, criatura fracassada na vida. Quem paga o colégio dos nossos filhos sou eu. Dependesse da miséria que você ganha, nossos filhos estariam estudando em colégio público.
O marido dá o troco:
Você tem celulite. Tem até vergonha de ir à praia. Tem queixo proeminente. Até varizes você tem.
Débora retruca:
O seu chulé, homem fracassado na vida, mulher nenhuma atura. Você é porco.
Débora toma um copo de água e diz:
         – Vou pedir a minha prima, que é advogada, para fazer o nosso divórcio. Não aguento mais. Vou dormir no quarto das crianças.

Comentários:
A palavra má é uma fonte geradora de tragédias. Por que agrediu a esposa? Pense bem antes de usar a palavra má. Proteja o seu relacionamento.
Eles estão separados há dois anos.




Postagens populares

Clique nas Imagens e Conheça meus Livros!

Seguidores

Total de visualizações de página